O significado de OM

Swami Dayānanda Sarasvati

Esta sílaba única, OM, vem dos Vedas. Como uma palavra sânscrita significa avati - rakṣati – aquilo que o protege, o abençoa. Como se dá essa proteção? É um mantra e é um nome do Senhor. E por que é um nome do Senhor? O nome do Senhor o protege através da sua repetição. Pelo nome você reconhece o Senhor e, portanto, torna-se uma prece. O Senhor é o protetor e o provedor; aquele que abençoa é o Senhor; o Senhor é na forma de benção. Repetindo OM, você invoca o Senhor naquela forma específica. Então, desta maneira OM o protege. Portanto, ele é fiel a seu nome. É o Senhor que o protege e não o som.
Entre o nome e o Senhor há uma ligação – abhidhāna – abhidheya – sambandha. Um é o nome, o outro é o seu significado. A conexão é que você não pode repetir o nome sem o significado dele, se você conhece o significado. Uma vez conhecido o significado, esse vem para sua mente assim como a palavra. Portanto, não são duas ações diferentes. Não ocorre primeiro a palavra, e depois de algum tempo seu significado aparece. Se você conhece o significado, quando a palavra aparece na sua mente, no mesmo instante o significado está lá. Isso é possível somente quando ambos estão interligados. Essa conexão é abhidhāna – abhidheya – sambandha. E, por causa desse sambandha, o nome protege você, e o Senhor também.
O Senhor é um e não-dual. Isso é o que dizem os Vedas. “Om iti idam sarvam. Yat bhūtam yat ca bhāvyam bhaviṣyati iti” – o que existia antes, o que existirá depois e o que existe agora. Tudo isso, sarvam, é realmente OM. Tudo o que existe é OM, tudo o que existiu é OM, e também tudo o que existirá depois, no futuro. Passado, presente e futuro, incluindo o tempo e tudo o que existe no tempo – tudo isso é OM. Aquele OM é Brahman. Portanto, o Senhor é não-dual, e esse não-dual é um. A sílaba é também uma e não-dual, significando que tudo está dentro dela. E tudo está dentro de OM.
Portanto, é também uma contemplação. Pois, apesar de OM ser uma sílaba única, nela existe A, U e M. A mais U é O, um ditongo, mais M é OM. Tem, portanto, três mātras, unidades de tempo, A é um mātras, U é outro, e M outro. Brahman, é sarvam (tudo) e também está na forma de três. Brahman em estado causal, como sūkṣma prapañća, o mundo sutil, e o sthūla, o mundo físico. O corpo físico é chamado de sthūla, assim como o universo físico. Dentro desse corpo físico existe outro mundo. É o mundo do nosso prāṇa que mantém este corpo vivo e inclui a mente e os sentidos. É sutil, pois está dentro desse corpo físico, não visível, mas sua presença não se perde. Portanto, o que mantém esse corpo vivo, sem o qual estaria morto, isso é sūkṣma. Quando sthūla e sūkṣma estão juntos, então existe vida. Quando sūkṣma não está presente, esse corpo físico fica inerte. Se Brahman, o Senhor, é tudo, então todo o sthūla prapañća, o universo físico que inclui todos os corpos físicos, é o Senhor, e também o sūkṣma prapañća, o mundo sutil, é o Senhor. Dessa maneira, temos o Senhor nos três níveis: no nível físico, sutil e causal. Na nossa vida diária, também, temos três estados distintos de experiência – o acordado, o sonho e o sono profundo. No sono profundo o indivíduo está na forma causal. No sonho você se identifica com o sūkṣma (sutil), sua própria mente. A mente está acordada e existe uma experiência de sonho, um mundo de sonho. E você ainda identifica-se com o corpo físico e tem, então, o estado acordado. Temos, pois, três estados de experiência e três mundos. Isso constitui o indivíduo enquanto ser acordado, e todo o mundo físico. Constitui também o ser que sonha e todas as experiências sutis e o causal, no sono profundo. São três e completam tudo o que existe a nível individual e total.
O ser acordado e individual está incluído em Brahman, que é o total. Portanto, o indivíduo acordado e o mundo acordado é Brahman. Seu mundo acordado está incluído no mundo acordado total. Todo aquele mundo acordado está representado por A. E existe uma razão para isso, falada no Śāstra (Escrituras). A é a primeira letra (ou som) que é pronunciada quando se abre a boca, e, da mesma maneira, M é a última, quando se fecha a boca. U está entre os dois. A representa o acordado, do qual depende U. A torna-se U quando os lábios se fazem arredondados. U representa todo o sūkṣma prapañća (mundo sutil), e M representa todo o mundo causal, pois tudo se dissolve em M. Depois dizer M, você não pode dizer mais nada. A e U terminam em M, assim como no sono profundo os mundos físicos e sutil dissolvem-se. Portanto, A-U-M, OM, e quando se pronuncia OM, tudo se dissolve em M. E, depois, tudo retorna, OM. A origem do retorno não é em M, e sim no silêncio. A e U dissolvem-se em M, e em seguida o OM nasce do silêncio. Então, A-U entram em M, e M entra no silêncio. O silêncio não é A, nem U, nem M, mas está também incluído em OM. Ele é chamado de amātra. O silêncio que existe entre dois OM's é Brahman, em sua forma essencial, do qual depende AUM - Jāgrat, o estado acordado; Svapna, o sonho; Susupti, o sono profundo; o sthūla prapañća, o mundo acordado; sūkṣma prapañća, o mundo de sonho; e o karana avastā, o estado causal. Todos os três dependem do silêncio, que é Brahman, que é Ćaitanya, consciência, Ātmā, Brahman. E é aquele mesmo que está nesses três. Portanto, todos os três vêm Dele, são sustentados por Ele e retornam para Ele mesmo. Aquele é Brahman. Portanto, Om iti idam sarvam, OM é tudo. É uma sílaba e, ao mesmo tempo, contém tudo. É não-dual. Então, o Senhor é tudo. Todas as formas na criação são formas do Senhor. E todas as formas têm um nome. Imaginemos que queiramos dar um nome ao Senhor. Que nome deveria ser? Todos os nomes são nomes do Senhor. Então, qual nome que poderíamos dar? Quando digo cadeira, não é mesa; são diferentes. Suponhamos que cadeira é Brahman, e que mesa também seja Brahman; então, qual o nome que daria ao Senhor? Deveria dar todos os nomes. Então, todos os nomes em qual língua? O Senhor é Um. Apesar de seu nome ter que incluir todos os nomes, ainda assim existe um nome de sílaba única que podemos dar a Ele. Esse é OM. Em qualquer língua, todos os nomes estão somente entre dois sons. Isto dentro do ponto de vista puramente fonético. Se você abre a sua boca e faz um som, este é A. Não existe outro som que possa ser feito. Um indiano, um chinês, um noruequês, ou até mesmo uma pessoa de alguma tribo, todos dirão A. Então, feche sua boca e faça um som. Você terá MM. Tente fazer outro som depois de fechar a boca. Portanto, AM. Todas as palavras, em todas as línguas, estão entre A e M. Entre essas estão muitas letras que tem de ser levadas em conta. Todas as outras letras estão representadas pelo que você produz quando arredonda os lábios e diz A. Você terá U. Junte A e U (em sânscrito) e você terá O; adicione M e terá OM. Todos os nomes, em todas as línguas, conhecidos e desconhecidos, estão incluídos entre A e M. Om iti idam sarvam. Portanto, OM é tudo e OM é também um nome fonético para o Senhor. OM não faz parte de uma língua específica. É fonético, além de qualquer língua. Portanto, OM é o nome para Brahman que inclui o silêncio também, o nirguṇa (sem forma) e o turīya (o quarto estado da consciência, que é a pura consciência). A-U-M e o turīya. Portanto, OM é considerado o mais sagrado e básico entre todos os nomes do Senhor.
Você pode fazer o japa de OM ou contemplar o OM. OMé o mantra do sannyāsi. Produz tyāga vṛitti, uma tendência a abandonar tudo. É por isso que geralmente as pessoas não cantam somente OM. Sannyāsis têm que cantar OM para não se envolverem. Outros não são incentivados a cantar para que não larguem tudo. Geralmente, cantamos OM no início e no final de qualquer coisa. OM representa um início auspicioso.

(Do livro, Vedanta e Yoga – coletânea de textos – editado pelo Centro de Estudos Vidyā Mandir, em 1994.)